Entendendo a Dor Muscular Tardia
A Dor Muscular Tardia (DMT) é desencadeada, principalmente, pelo dano estrutural das células musculares devido a exercícios excêntricos ou desconhecidos, ou até pelo excesso desses, gerando dano muscular com lesões ultraestruturais, perturbação do sarcolema e do sarcômero. E isso provoca uma resposta inflamatória que culmina, como seus principais sinais e sintomas, com redução da força muscular, aumento da restrição do movimento, dor, rigidez, inchaço e disfunção das articulações adjacentes.
As primeiras manifestações começam em torno de 6 a 12 horas após o exercício, aumentando progressivamente até atingir um nível máximo de dor em 48 a 72 horas após o treino, desaparecendo aproximadamente de 5 a 7 dias depois. Embora seja considerada um tipo de lesão leve, é uma das razões mais comuns para o comprometimento do desempenho esportivo.
Tratamento integrado além dos fármacos
Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) são usados, como diclofenaco, sem prescrição do médico esportivo, para reduzir as dores e os outros desconfortos associados à DMT, mas impactam a resposta adaptativa ao exercício, reduzindo, consequentemente, o aumento da massa e da força muscular, além de poder desencadear outros sintomas.
Por isso é necessário o apoio de terapias alternativas que proporcionem menos efeitos colaterais, como compressão, imersão em água gelada, vibração, massagem, acupuntura, entre outros, assim como a nutrição. Existem alimentos e suplementos que podem ser aliados do controle da DMT, conforme a literatura científica recente demonstra, podendo fazer parte de suas estratégias nutricionais para esportistas e atletas de forma a contribuir para o bem-estar e a performance.
Gengibre
O gengibre desempenha potente ação anti-inflamatória, sendo capaz de inibir a atividade da COX 1 e COX 2. Matsumura et al. (2015) apontam que o uso de 4g de gengibre em pó no pré-treino, por 5 dias, apesar de não ter proporcionado redução na escala de dor visual em comparação ao placebo, é capaz de potencializar a recuperação muscular, uma vez que induziu à melhora de parâmetros relacionados a esta. Meamarbashi (2017) destaca evidências que demonstram que o gengibre é capaz de reduzir a DMT, mas a partir da atenuação dia após dia da progressão da dor muscular.
Canela
Belcher et al. (2019) relatam que atletas que utilizaram a suplementação de 3g de canela em cápsulas por 9 dias tiveram redução da dor muscular, além de a recuperação deles ter sido otimizada. Meamarbashi (2017) cita outros estudos que demonstram a eficácia da suplementação com canela na redução da DMT.
Curcumina
Mallard et al. (2020) realizaram um estudo randomizado, controlado e duplo-cego, conduzido por 72 horas, avaliando os benefícios da suplementação com 450mg de extrato de curcumina (padronizado em 95% de curcuminoides) na forma de bebida, na dor muscular tardia, em homens com 18 a 35 anos, treinados. O grupo intervenção teve uma rápida redução da dor (nas 48 a 72 horas após o exercício), além da melhora de outros parâmetros relacionados à DMT, como redução da circunferência de coxa (nas 24 a 48 horas após o treino), aumento de marcadores anti-inflamatórios séricos e modulação da produção de lactato, mostrando-se eficaz no tratamento deste quadro.
Beterraba
A beterraba é um alimento rico em carboidratos e compostos como nitrato, betalaínas e polifenóis, que estimulam, respectivamente, a vasodilatação e efeito anti-inflamatório, promovendo reposição de glicogênio muscular e potencializando a recuperação pós-treino. Clifford et al. (2016) avaliaram os efeitos da ingestão de suco de beterraba em homens ativos, em três períodos, após uma sessão de 100 drop jumps. Os autores colocam que a ingestão de 250ml do suco, 2x ao dia, promoveu melhora do desempenho, além de reduzir dores musculares, sendo assim aliada do controle da DMT.
L-carnitina
A l-carnitina possui efeito antioxidante reconhecido e, por isso, pode ser aliada do controle da DMT. Uma revisão sistemática e meta-análise de estudos clínicos randomizados demonstra que a suplementação com l-carnitina é eficaz na redução de creatina quinase, mioglobina e lactato desidrogenase, além de contribuir com a redução da dor muscular, sendo eficaz na modulação do dano muscular e da DMT, em indivíduos em treinamento de resistência (YARIZADH et al., 2020).
Suco de melancia
A melancia é uma fruta naturalmente rica em l-citrulina, composto precursor de l-arginina, que atua na síntese de óxido nítrico e de creatina. Harty et al. (2019) reúnem estudos que apontam que o consumo de suco de melancia antes do treino, seja natural ou enriquecido com l-citrulina, é capaz de reduzir a DMT em atletas.
REFERÊNCIAS
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