Todo o nutricionista esportivo visa melhorar, a partir das suas condutas nutricionais, o desempenho físico dos seus pacientes atletas e praticantes de atividades física, de modo a garantir que atinjam seus objetivos. Dessa forma, é importante incluir estratégias alimentares e a prescrição de suplementos que modulem alterações e desconfortos que os treinos possam gerar, afetando a performance. Dentre os mais comuns, temos a Dor Muscular de Tardia (DMT), que tanto impacta a qualidade de vida dos atletas e esportistas.
O que é a DMT?
A DMT é causada por formas excêntricas ou desconhecidas de exercício e os sinais clínicos associados a ela incluem redução da força muscular, aumento da restrição do movimento, dor, rigidez, inchaço e disfunção das articulações adjacentes. As primeiras manifestações clínicas começam em cerca de 6 a 12 horas após o exercício, aumentando progressivamente até atingir um nível máximo de dor em 48 a 72 horas após o treino, desaparecendo aproximadamente de 5 a 7 dias depois. Embora a DMT seja considerada um tipo de lesão leve, é uma das razões mais comuns para o comprometimento do desempenho esportivo.
Fisiopatologia e marcadores bioquímicos
O atual mecanismo primário considerado para o desencadeamento da DMT tem relação com dano estrutural das células musculares devido a atividades esportivas desconhecidas ou exercícios excêntricos, gerando maior degradação proteica, apoptose e resposta inflamatória local. A suprarregulação de citocinas pró-inflamatórias circulantes leva ao aumento da permeabilidade vascular, assim, gerando distúrbios na microcirculação. O edema intramuscular, bem como a presença de substâncias pró-inflamatórias, como as prostaglandinas, é responsável pela sensação de dor, além do inchaço e da rigidez muscular.
A DMT está associada com o aumento da creatinofosfoquinase (CPK), da lactato desidrogenase (LDH), da pentraxina-3 (PTX3) e da proteína C-reativa (PCR), mas estas devem ser vistas como marcadores inespecíficos dessa condição.
Nutrição x fármacos:
Os anti-inflamatórios não esteroidais (AINES) são usados, sem prescrição do médico esportivo, para reduzir as dores e os outros desconfortos associados à DMT, mas estão associados à redução da resposta adaptativa ao exercício e, consequentemente, da hipertrofia e força muscular. Assim, a nutrição é uma grande aliada para o controle da DMT, sendo que alguns suplementos nutricionais descritos na literatura são benéficos para o tratamento deste quadro, sem promover os efeitos colaterais dos AINES. Um dos compostos mais eficazes, com grande número de evidências científicas, é a curcumina.
Curcumina – Anti-inflamatória e antioxidante
A curcumina é um polifenol encontrado na cúrcuma (Curcuma longa), especiaria de origem indiana, sendo a ela atribuídos a coloração amarela deste rizoma e os diversos benefícios associados ao seu uso, como efeitos anti-inflamatório e antioxidante, principalmente, por bloquear a atividade do NF- κB, modular enzimas antioxidantes e inibir a formação de enzimas pró-inflamatórias, como a ciclo-oxigenase 2 (TSUDA, 2018; HEWLINGS, 2017; KALMAN, 2017). Por isso, tem sido estudada como uma forma de tratamento para a DMT.
Curcumina e DMT – O que a ciência diz?
Uma recente revisão sistemática conduzida por Fernandéz-Lázaro et al. (2020) concluiu que a administração de curcumina, em uma dose suplementar entre 150-1500mg ao dia, antes, durante e até 72 horas após o exercício, pode melhorar a performance física, assim, reduzindo marcadores de oxidação muscular e modulando a inflamação causada pela atividade física.
Mallard et al. (2020) realizaram um estudo randomizado, controlado e duplo-cego conduzido por 72 horas, avaliando os benefícios da suplementação com 450mg de extrato de curcumina (padronizado em 95% de curcuminoides) na forma de bebida, na dor muscular tardia, em homens com 18 a 35 anos, treinados. O grupo intervenção teve uma rápida redução da dor (nas 48 a 72 horas após o exercício), além da melhora de outros parâmetros relacionados à DMT, como redução da circunferência de coxa (nas 24 a 48 horas após o treino), aumento de marcadores anti-inflamatórios séricos e modulação da produção de lactato, mostrando-se eficaz no tratamento deste quadro.
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REFERÊNCIAS
HOTFIEL, T. et al. Advances in Delayed-Onset Muscle Soreness (DOMS): Part I: Pathogenesis and Diagnostics. Sportverletzung Sportschaden, v.32, n.4, p.243-250, 2018. Disponível em: <https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/30537791/> Acesso em: 21 ago. 2020.
MARQUES, N.; LOSCHI, R. Fitoterapia Funcional Aplicada à Prática Esportiva. São Paulo: Valéria Paschoal Editora Ltda., 2017.
TSUDA, T. Curcumin as a functional food-derived factor: degradation products, metabolites, bioactivity, and future perspectives. Food & Function, v.9, n.2, p.705-714, 2018. Disponível em: < https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/29206254/> Acesso em: 21 ago. 2020.
HEWLINGS, S.J.; KALMAN, D.S. Curcumin: A Review of Its’ Effects on Human Health. Foods, v.60, n.10, p.92, 2017. Disponível em:< https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC5664031/ > Acesso em: 21 ago. 2020.
MALLARD, A. R. et al. Curcumin Improves Delayed Onset Muscle Soreness and Postexercise Lactate Accumulation. Journal of Dietary Supplements, p.1-12, 2020. Disponível em:< https://pubmed.ncbi.nlm.nih.gov/32705925/> Acesso em: 21 ago. 2020.
FERNÁNDEZ-LÁZARO, D. et al. Modulation of Exercise-Induced Muscle Damage, Inflammation, and Oxidative Markers by Curcumin Supplementation in a Physically Active Population: A Systematic Review. Nutrients, v.12, n.2, p.501, 2020. Disponível em:<https://www.ncbi.nlm.nih.gov/pmc/articles/PMC7071279/> Acesso em: 21 ago. 2020.